Querida Toia,
Desde 2008 que
tenho por costume adquirir livros em alfarrabistas. Primeiro namoro-os,
examinando a sua roupagem, os seus aromas, a sua idade, a textura das
suas páginas, lendo de través o verso da contracapa. De seguida,
recoloco-os na estante de modo a saber se querem vir comigo - ponto
assente e obrigatório é que os vendam a preços módicos, caso contrário, é
pouco provável que os traga -, ou se, pelo contrário, preferem ficar
ali à coca de mãos mais suaves, abastadas e experientes. Acontece, por
vezes. O primeiro dos meus livros - sim, é sobre ele que te falo hoje -,
inegociável por razões afetivas, foi trazido quase clandestinamente
para casa. Li-o, expectante, tempos mais tarde e reli-o agora pelo facto
de o esquecimento das suas variações se ter apossado de mim (Fernando
Namora é o autor e 1961 o ano em que foi dado à estampa). Trata-se de um
romance em que as duas personagens centrais, Jorge, médico e narrador, e
Clarisse, doente com leucemia, circulam uma em torno da outra numa
empatia que, apesar de desconfiarmos do desfecho menos benévolo da
trama, as entrelaça e conduz a uma das questões mais profundas no ser
humano em todos os tempos e lugares, a da sua vulnerabilidade. Ao
relê-lo, e são apenas duzentas páginas de caminho, percebi e percebemos
facilmente que urge viver passo a passo, dia a dia, construindo
lentamente, definindo metas, trabalhando com afinco e desfrutando o mais
possível do melhor que há na vida.
José
Foto: Águas Férreas, Novembro de 2013
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