Madruguei demais. Fumei demais.
Foram demais todas as coisas que na vida eu emprenhei.
Vejo-as agora grávidas. Redondas.
Coisas tais, como as tais coisas nas quais nunca pensei.
Demais foram as sombras. Mais e mais.
Cada vez mais ardentes as sombras que tirei
do imenso mar de sol, sem praia ou cais,
de onde parti sem saber por que embarquei.
Amei demais. Sempre demais.
E o que dei está espalhado pelos sítios onde vais
e pelos anos longos, longos, que passei
à procura de ti. De mim. De ninguém mais.
E os milhares de versos que rasguei antes de ti,
eram perfeitos. Mas banais.
Joaquim Pessoa, in 'Ano Comum'
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